Os resquícios da monocultura da cana-de-açúcar, com as máculas do período colonial do Brasil, atravessam a história da rapadura. Os engenhos de açúcar, implementados pelos invasores portugueses após o ano de 1530, compuseram as bases das relações sociais escravagistas e desiguais do país. A rapadura, também oriunda da cana, seguiu um curso diferenciado. Com o passar do tempo, seus modos de fazer foram incorporados pela agricultura familiar e suas principais características, tais como alimento nutritivo e resistente a longos períodos, tornou-a um símbolo cultural e de resistência para o povo nordestino.
No Museu da Rapadura do Engenho Gravatá, Engenho que completou 100 anos de existência em 2021, são salvaguardados os artefatos necessários para a fabricação do alimento pela comunidade, localizada na zona rural da cidade de Correntes, Agreste de Pernambuco. Conchas ou cuias de cabaça (planta nativa da região), fornalhas, tachos, formas, moendas, dentre outros, são objetos que fazem parte do processo, além do engenho primitivo, uma peça confeccionada em madeira, que continua montada na Casa de Bagaço. Do plantio à colheita da cana, da moagem ao escoamento da garapa aos tachos até atingir o ponto ideal do mel, passando pelo esfriamento, todo o processo de fabricação da rapadura é vivenciado na localidade.
Este museu e engenho se transformam num Museu de Experiência, onde os visitantes e a comunidade podem criar conexões com os objetos que estão em exposição, resgatando-os de uma dimensão museal contemplativa, para a sua modalidade de objetos de uso. Um dos aspectos mais desafiadores dos museus consiste em fazer memória e uso agirem de forma simultânea, numa relação de aprendizado pela vivência. No Museu da Rapadura, os objetos retomam seu lugar de instrumentos de trabalho cotidiano, mediando afetos com o patrimônio material e imaterial que se encontram presentes pelo prazer dessas pessoas em depositarem suas memórias familiares, seculares em práticas cultuadas por gerações de nordestinos.
São depositados objetos de uso que se transformaram em artefatos de memória da comunidade. Se apresentam como testemunho da história da comunidade através destes objetos, que frequentemente são trazidos aos saberes e fazeres quando retornado a sua dimensão de uso e prática imaterial. Acima de tudo podemos afirmar que estes objetos detem elementos
O espaço se transformou num lugar de realizações culturais para a comunidade e região. Frequentemente são realizadas atividades musicais em que os moradores. Através deste pequeno museu se testemunham grandes narrativas da história do Brasil.
O entorno do museu também faz parte do patrimônio histórico a ser conhecido pelos visitantes do museu. Cercado por uma mata atlântica preservada, o engenho cultiva cana em respeitando a fauna e flora da região.
Com um circuito de visitação que começa na casa do engenho e segue por um trilha ecológica que leva até um mirante, o visitante pode contemplar a paisagem. Lá são debatidos detalhes sobre as transformações do museu e como ele foi se adaptando a preservação do território ao seu redor, sempre compreendendo que a área ecológica implica diretamente na qualidade da rapadura que é produzida e na qualidade de vida da região.
Baseado em fato real. A rapadura é brasileira, nordestina e do povo, disso ninguém dúvida. Mas para a surpresa dos moradores do Engenho Gravatá, uma empresa alemã se interessou pelo produto e o patenteou. O vídeo mostra a mobilização pelo reconhecimento da rapadura e pela sua valorização como produto de sustento da comunidade.
Ficha Técnica
Roteiro e direção: Maria Filomena Camelo de Vasconcelos
Produção: Maria Filomena Camelo de Vasconcelos, Genaldo Barros e Marcela Camelo
Imagens: Guilherme Silva
Edição: Charles Martins
Som: Nicolas Romero Bucarey
Elenco: Manoel Camelo, Marciana Camelo, Rodrigo Camelo, Ana Maria Camelo, Maria de Fátima Pereira, Luís Martins, Daniel Hortêncio, Eduardo Hortêncio, Maria José Hortêncio e Oseas André da Silva